Porto, Oct 9th, 2020.

Num dos intervalos no segundo dia de aula da minha graduação em computação em 1994, assisti a uma discussão entre os alunos se uma determinada folha tinha sido impressa em laser, jato de tinta ou matricial. Eu fiquei a observar com espanto tal discussão e imaginava: “o que importa se essa folha foi impressa com tal tecnologia, se o que importa é o que está escrito??”

Aquela conversa ficou em minha cabeça. A despeito de ter visto um computador conectado numa TV e programado algumas linhas em BASIC (nos idos de 1980) e depois ter mexido num 386 (em 1993), eu não tinha a menor ginga com computador. Não fazia parte do meu universo. Entretanto, se eu quisesse mesmo me graduar em computação, teria que mergulhar fundo para poder discutir com meus amigos coisas mais importantes do que o tipo de impressora que tinha sido usado. Saí da aula, fui para uma livraria, comprei “A Bíblia do Programador” (Peter Norton) e li página por página para entender esse universo.

TK-85, o primeiro computador que mexi.
(Imagem: Nate Cull – originally posted to Flickr as TK85

Não por acaso, a Internet chegava ao Brasil em 1994. Eu estava ali, metido naquela faculdade e não poderia estar num melhor momento. Eu aproveitei praticamente todas as ondas possíveis que surgiram em todos os anos que vieram, seja de desenvolvimento de sites, configuração de redes, atendimento a usuários, segurança de informação até gestão de datacenter. Em todos esses anos, o motor que me moveu foi a minha curiosidade em aprender.

Estamos em 2020. Meu filho está aprendendo algoritmos na escola, no último ano do ensino médio. O professor colocou algumas variáveis no quadro, algumas linhas de código. Tudo isso na primeira aula. Os alunos ficaram atônitos, perdidos – meu filho incluído. Na semana seguinte, chegaram os laptops para serem usados durante a aula. Visual Basic foi a linguagem escolhida. O professor, exímio mexedor na IDE saiu escrevendo código. Os alunos continuavam perdidos.

Eu recuei no tempo e me vi como meu filho: ignorante, sem saber o que é um programa e o que é um computador (detalhe: exímio usuário de Instagram, de Internet, de apps e, agora, de softwares de trading…).

Sentei e expliquei para ele o que era um computador e suas estruturas mais básicas. O que eram bits, bytes, megas, gigas, teras e “informação”. Expliquei para que serviam programas. Ele perguntou se precisava de muita gente para programar um Windows. Eu respondi: “na casa de dezenas de milhares de pessoas – que geraram milhões de linhas de código – e geraram trilhões de dólares de valor no planeta todo.

Os jovens ainda não perceberam que o mundo está numa aceleração incrível, impulsionada pelo avanço exponencial das tecnologias. São exímios usuários, só não sabem como funcionam por dentro.
E eu não sei se isso é bom ou ruim.
Desconfio que seja ruim.
Porque é bom ter curiosidade para saber como e por que as coisas funcionam. E também quem as criou.


Eu contei do Gordon Moore, da Intel. Mas não falei da lei de Moore.
Achei melhor deixar essa explicação para a semana que vem.
Porque não há como entender o futuro e se posicionar no mundo se você não souber o que é exponencial, o que é disrupção e o que é inovação.

Eu volto aqui para contar como foi. Continue faminto, continue curioso.


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